segunda-feira, 20 de outubro de 2008

O QUE É TRABALHO DE BASE

O QUE É TRABALHO DE BASE - De Ranulfo Peloso da Silva (CEPIS)

Posted on 16/4/2007 at 10:19 in Subsídios
“Fé na vida, fé na gente, fé no que virá. Nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será”. (Gonzaguinha)


Trabalho de base não é receita ou mágica. É um jeito de fazer política onde o militante coloca sua alma. É uma paixão carregada de indignação contra qualquer injustiça, e cheia de ternura por todos que se dispõe a construir um mundo sem a marca da dominação. Essa convicção nasce do coração e da razão, torna-se força contagiante, capaz de vencer a fúria e a sedução da opressão e de comprometer-se com a transformação das pessoas e da sociedade.

Essa prática multiplicadora pode ser realizada nas favelas, nas ocupações de terra, nas fábricas, nas igrejas, nas instituições do Estado e nos espaços internacionais. Ela se sustenta quando mantém os pés no chão e a cabeça nos sonhos. Consegue vitórias quando articula as lutas econômicas com as diferentes lutas políticas e sociais. E perdura, em qualquer conjuntura, quando combina ações de rebeldia com as disputas na legalidade.

1. A finalidade do trabalho de base é:

a) Anunciar sempre que o ideal da humanidade é a prosperidade e a convivência solidária. E combater a ganância, a competição, a dominação. Quanto maior a opressão e a crise, maior a razão para propagar o sonho da sociedade sem classes.

b) Despertar a dignidade das pessoas e a confiança nos seus valores e no seu potencial. A pessoa se torna feliz e perigosa (para as elites), quando começa a andar com os próprios pés. Em geral, quem está no poder, prefere gente obediente e conformada, porque é fácil manipular uma população domesticada e dependente.

c) Canalizar a rebeldia popular na luta contra a injustiça e na construção de uma sociedade de homens e mulheres novos, onde a produção, distribuição e consumo, sejam orientados pela lógica da solidariedade.

d) Transformar a realidade e conseguir vitórias em todos os campos e em todas as dimensões, que satisfaçam os justos anseios da população.


2. A força do trabalho de base está:

a) Na sua sustentação de base: o trabalho de base tem que ter raízes plantadas na alma da população que é a base da sociedade. Por causa desse alicerce, ele sempre renasce e se reproduz. Não é um movimento para os trabalhadores. É dos trabalhadores. O povo deve se sentir parte dessa construção e companheiro da mesma caminhada. Para isso, o trabalho de base se organiza lá onde o povo vive e trabalha. Para combater dentro de cada um o vício da dependência, é preciso que cada pessoa, desde o início, contribua com disposição, idéias e sustentação financeira das atividades.

b) Na crença do povo: a razão do trabalho de base é ajudar o povo a entender e se comprometer com a vida feliz e solidária. Mas sabe que esse povo já luta porque precisa sobreviver. O povo está sempre reagindo contra a exploração e a dominação, mesmo quando não fala a linguagem dos militantes ou entra em caminhos eu são armadilhas. A história tem mostrado que, apesar de toda a miséria e de toda a contradição, o povo é a sementeira permanente de novas formas de luta e de novos militantes.

c) Na clareza de que a organização popular, sendo uma parte, é parte para incluir todo o povo. Os dirigentes não são guias geniais, mas lideranças indispensáveis que ajudam o povo a entender a realidade e organizar os esforços, no rumo da transformação. No processo, o povo vai assumindo-se como sujeito de sua história. É como diz o poeta “sentindo na vida que pode, o pobre entende o que vale; depois que a canga sacode, não há patrão que o cale”.

d) Na coerência entre rumo e caminho: no trabalho de base não tem essa de fazer a cabeça. A pessoa deve abraçar a causa, porque foi convencida de que ela é justa. Então, o jeito de tratar as pessoas, deve estar de acordo com a finalidade que queremos atingir. Fica difícil falar de liberdade se, na prática diária, as pessoas mantém um comportamento autoritário e antidemocrático. É verdade que, quem não sabe onde quer chegar, não chega lá nunca”. Mas, é igualmente verdade, que o fim é o caminho que a gente faz, para chegar no objetivo. Quer dizer, o método que se pratica, deve ser coerente com os objetivos que se pregam.

e) Na metodologia multiplicadora: cada militante que se convence, assume o compromisso de mobilizar um time de novos companheiros. Estes, por sua vez, vão repartir os esclarecimentos e as experiências com outros colegas que vivem em muitos espaços de luta, de vida, e de trabalho. Assim se vai tecendo a rede de resistência e de solidariedade, para a conquista de vitórias.

f) No planejamento das ações: ninguém entra de peito aberto numa guerra. É indispensável traçar um caminho, capaz de levar à vitória. O planejamento enfrenta o medo de mexer no comodismo das pessoas e na indisciplina da prática espontaneísta. Na luta popular, como no futebol, o objetivo não é chutar a bola. É preciso avançar e se defender organizadamente, na hora certa e com as pessoas certas. Por isso, marcam-se pontos e prazos de chegada; faz-se uma caprichada preparação dos militantes; escolhem-se responsáveis pelas atividades; realiza-se um balanço dos resultados, em cada etapa da luta.

g) No amor pelo povo e pela vida: o trabalho de base é mais que um trabalho profissional, feito por pessoas competentes. Ele tem um segredo que anima a esperança dos militantes, chegando à doação da própria vida. O valor da vida, a dignidade das pessoas, a rebeldia para a liberdade e a fraternidade universal, formam a base dessa paixão que invade a alma dos militantes e dá sentido à sua disposição e dedicação. No concreto, essa convicção se traduz no respeito ao povo, no carinho aos iniciantes, no cumprimento dos acertos coletivos, na capacidade de tomar iniciativas, na coragem de encarar os desafios, nos gestos de indignação, entusiasmo e celebração. O amor pelo povo e pela vida se expressa, de maneira plena, nas manifestações individuais e coletivas do companheirismo.

Ranulfo Peloso da Silva

CEPIS, SP - A RETOMADA DO TRABALHO DE BASE

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